quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O ego e a criança interior


Tenho pesquisado sobre esses dois temas e encontrei este texto que, para mim, foi interessante. Consta no Blog Modéstia a Parte e nele o leitor encontra os links assinalados em azul neste texto.


Para introduzir o nosso artigo de hoje, escolhi um poema de Fernando Pessoa.

A CRIANÇA QUE FUI CHORA NA ESTRADA
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Já abordamos anteriormente temas que falam sobrre a criança interior, aquela que ainda vive dento de nós e que precisa ser tratada com amor e respeito.
As manifestações infantis dos adultos de hoje são as representações das atitudes reprimidas da criança de ontem. Partimos do princípio de que toda criança precisa de amor, é este sentimento nobre que vai nutri-la, preparando-a para ser um adulto como uma boa autoestima, com senso de pertencimento, com assertividade, seguro e consciente de suas escolhas. Mas, na grande maioria dos casos, nós os adultos de hoje não tivemos a oportunidade de receber de nossos pais um amor incondicional, é certo que eles não tinham a menor condição de nos nutrir com este amor entretanto, também é certo que por conta disso crescemos altamente desnutridos. Hoje, muitos ainda passam pela vida sentindo-se injustiçados e sem capacidade de buscar o que é seu por direito. Outros fazem birra quando estão diante de uma frustração por não acreditarem que tem condições de reagir de uma forma mais madura. Alguns vivem de cabeça baixa, não percebem que tem direito à vida e se sujeitam a vários tipos de situações que alimentam sua baixa autoestima. Há ainda os apegados ao sofrimento que cultivam ardorosamente os momentos difíceis, na intenção de encontrar o conforto do “inferno conhecido”. São muitas as características manifestadas por um adulto mal nutrido de amor.

O esforço de posicionar-se como um pitbull determinado para modificar estes padrões que citamos acima, é algo que gasta uma energia imensa e traz pouco ou nenhum resultado. Muitas pessoas sentem-se orgulhosas po conseguirem “domar” determinados impulsos, o que elas não entendem é que se ao invés de “domar” elas atuassem a partir de cada impulso, seu esforço seria menor e seu resultado muito melhor e permanente. Essas pessoas crescem e evoluem para um caminho mais positivo? Certamente, a princípio sim, entretanto não se dão conta de que esse processo seria muito mais valoroso e menos exaustivo se mergulhassem na origem dos seus comportamentos e os trabalhassem com amor.
Sentimentos não devem ser reprimidos, devem ser reconhecidos, aceitos e trabalhados da maneira correta.

ORIGEM
Um dia, quando ainda criança, sentimos vergonha de ser como éramos. Não tão inteligentes, bonitos, educados, harmoniosos e cheios de sucesso como nossos pais gostariam que fôssemos. Ao percebemos que não estávamos a altura de atender às expectativas daqueles que para nós eram como deuses, decidimos mudar e abandonamos nossa criança na beira da estrada, como diz tão belamente Fernando Pessoa. O que acontece é que aquele menininho e aquela menininha ainda estão lá, paradinhos, assustados, com medo e cada vez com uma necessidade maior de amor. Só existe uma pessoa no mundo capaz de resgatá-la, você.
Tratar esta criança com indiferença, com rancor, com repressão ou tentar domá-la só reforçarão seus sentimentos de medo e ansiedade.
No início o medo poderá fazê-la calar-se, mas logo a fome de amor aumentará e ela gritará por você.

Saber que hoje somos os adultos responsáveis pela criança que existe dentro de nós é algo assustador, mas também libertador. Assustador no sentido de ser um trabalho árduo e que algumas vezes vem repleto de dor, porque o caminho que nos leva de volta até a criança está cheio de registros dolorosos que prefirimos deixar para trás, por nos faltar condições e recursos para enfrentá-los, vimos isso muito bem no artigo Porque reagimos assim.

Entrar em contato com cada sentimento doloroso exige de nós muita coragem. É importante lembrarmos que apesar de toda dificuldade, hoje nós somos adultos e estamos mais estruturados, isto nos possibilita transitar por essa “estrada” com segurança.
Saber que somos responsáveis por nossa criança também é libertador porque de uma vez por todas podemos nos abrir mão das vozes autoritárias daqueles que eram responsáveis por nós. Hoje sou eu quem decido de que forma devo agir, sou eu quem faço minhas escolhas, sou eu quem crio minha vida.
Se você alimenta alguma dúvida sobre o poder de autoridade que os seus responsáveis ainda exercem sobre você, faça o teste. Cada vez que planejar fazer algo que vem adiando há tempo, preste atenção nos pensamentos negativos que surgem e desenvolva a percepção de descobrir a sua origem.

INTERIOR
É muito possível que ao ouvir, em seus pensamentos, expressões do tipo “você é um fracasso”, “você nunca vai conseguir”, “isso não vai dar certo de jeito nenhum”, “você não é tão inteligente como fulano”, “se pelo menos você tão bonita quanto sua prima”, você se recorde de sua infância e das repetidas vezes que ouviu ou recebeu como insinuação algumas dessas afirmações.
Libertar-se da voz autoritária de nossos pais e responsáveis é fundamental. Nossos pais merecem carinho e todo respeito, mas nós já crescemos lembra-se?
Apesar de ainda acontecer com frequência, atualmente já se trabalha em função do respeito que se deve à criança, porém há poucos anos atrás era muito comum e até tido como referência de boa educação, manter a criança à margem, tratando-a como inferior.
Expressões como “faça o que falo e não o que faço”, “coloque-se no seu lugar”, “não se meta na conversa”, “criança não tem opinião”, “engole o choro”, “contenha sua raiva”, “você está fazendo sua mãe ficar doente”, e muitas outras eram comuns e deram origem a uma geração insegura, cheia de medos e anseios, deprimida e constantemente insatisfeita.

A criança não podia expressar opiniões nem sentimentos, não tinha o direito de argumentar e por isso ela pensava, em meio a sua inocência, “deve haver algo errado comigo”. Porque para a criança, não importa o que o adulto faça, ela será sempre a errada. Mesmo no caso mais absurdo de abuso sexual, impotente diante de tanta dor, a criança sente-se culpada e responsável pelo que fez. E quando percebe que não é valorizada, que está errada, decide mudar e crescer. O lado que toma essa decisão, ainda que por falta de recursos para reagir de forma diferente, abandona a “criança inadequada” na beira da estrada e segue sozinho, trasformando-se no adulto de hoje.
Tenho certeza de que você é um adulto muito especial, mas não tenho dúvida de que se começar a tratar a sua criança com respeito e amor, ela se integrará a você e então verás o adulto especial transformar-se no adulto fenomenal.

Muita Coragem e Paz para nós!

Imagem:Ética na Infância

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